Cereja (texto incompleto)

Categoria: escrito por Eduardo Bordinhon
I

Cherry era seu nome, assim como o batom que ela disse estar usando. O perfume me recordava adolescência e essa também era a impressão toda que ela me passava, embora seus traços já marcassem a mulher que ela viria a ser. O cheiro me atraiu para perto do braço do sofá e deixei, pela primeira vez, minhas intenções claras para com uma mulher. Ela entendeu o jogo, me deu as costas com um sorriso, melindrosa, quase infantil. Passei as mãos nas suas costas que ora me aceitavam, ora me repeliam.
Num ímpeto me levantei, puxei seu corpo que desvencilhava contendo a vontade de bater em mim e por três ou quatro vezes quase consegui beijá-la, sendo bem sucedido na quinta. Soltei seus braços e ela caiu no sofá, pernas tortas, batom borrado e olhar furioso. Havia mentido, seu batom nada tinha de cereja e talvez esse nem fosse seu nome.
Saí e a deixei.
Na rua, contei os passos até meu apartamento.

II

Lavei meus lençóis duas ou três vezes com a finalidade de tirar o cheiro da criança, mas isso só serivu para desgastá-lo. Concluí que o problema estava no colchão, o que me fez aceitar conviver por mais alguns dias com Cherry. Já fazia duas semanas que não nos relacionávamos mais além de um cordial bom dia com um beijo desencaixado na bochecha, algo que me revirava as entranhas e ligava a vontade que tive em nosso primeiro encontro. E por mais que evitasse frequentar (para o bem mútuo) nossos lugares em comum, alguns eram inevitáveis e confesso que os fazia assim. Meu comportamento permaneceu, a vista de todos, inalterado, mas sabia que naquela menina havia algo não antes acessado. Ou não acessado a tempos. Para o bem ou para o mal. E enquanto deixava o tempo passar, mal sabia que aquilo era o que mais tarde denominei amor a homônios.







 

1 comment so far.

  1. Unknown 26 de abril de 2009 às 12:46
    Será que algum dia a gente vai conseguir explicar como o cheiro de Blue Barry, a música de um violloncello, perfumes de baladas e sorrisos de praia e corredor impregnam a nossa pele, o nosso pensamento?
    - Ainda bem que não!
    Um beijo!

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