06/07/08

Categoria: escrito por Eduardo Bordinhon
Mel, cuecas, camiseta, sapatênis, linhaça, quase um celular... Essa era sua lista de presentes ganhos em seu último aniversário no 06 de abril.
Fora isso, duas festas surpresa: uma com os amigos da faculdade e outra com os amigos da casa onde morava. A primeira, mais opulenta, com muito suco (na época não bebia refrigerantes ou alcoólatras), salada, salgadinhos e um bolo muito bom, devidamente agradecidos e devorados por ele durante a festa.
Eram as únicas festas que teve nos seus quatro anos de universidade. A do primeiro ano ele desconsiderava porque não era amigo de nenhum dos presentes e eles estavam reunidos apenas como colegas com uma desculpa de comerem juntos. As duas seguintes caíram em feriados e só lhe sobrava aquela última, numa segunda-feira, para comemorar com quem queria.
A sensação quando viu os primeiros amigos surgindo de onde se escondiam, depois de desarmarem sua desconfiança por não fazerem o clássico "o aniversariante entra a já descobre a festa" foi incrível. Talvez as fotos tiradas por uma amiga explicassem melhor o que se passou com ele durante aquele minuto no qual se cantou "Pais e Filhos" da Legião Urbana no lugar do clássico "Parabéns a você", cantado logo em seguida para que se mantivesse a tradição.
A vela, um número 2, muito aprovada por ele que dizia "já que é 22 anos, porque gastar com duas velas? Borrando os olhos eu consigo ver até 222 se quiser", foi colocada sobre um bolo de Páscoa e devidamente apagada com o pedido de praxe. Depois disso, cumprimentar um por um, ver quem veio, descobrir os porquês de quem não veio e sentir sua falta.
Queria um número de pessoas x+1. Mas assim o foi, a festa se seguiu e ele se soltou mais do que de costume, permitindo uma abertura sem precedentes para aqueles que estavam ali. Era como se seis de abril fosse seu carnaval fora de época.
Nunca soube como lidar com a data. Há quem diga que ele não gosta de comemorar o aniversário, mas esse desgosto é só para algumas mulheres com mais de 40 anos. Ele gostava e ainda gosta, mas omite a data porque dá a ela um valor importantíssimo. Só os queridos se recordam, com os devidos perdões para a galera do Alzheimer. Queria que esse último 06 fosse especial, fosse definitivamente o seu dia. O seu último dia com os amigos.
Durante a festa olhou para os que estavam ali e se perguntou quem estaria com ele no próximo ano. Com quem ele gostaria de estar e quando e onde. Na hora de responder o porque confessou não saber. Se sentiu um pouco sozinho, balançou a cabeça e voltou a dançar. A festa durou mais umas duas horas e, como ele gosta, acabou cedo para que o dia sete corresse bem. Foi dormir um pouco depois disso.
O dia sete chegou e não era mais seu dia; este agora se encontrava perto e longe. Olhou para sua mesinha onde podia ver a camiseta e o cartão que veio com o mel. O sapato estava do outro lado, ao pé da cama. Se arrumou, olhou no espelho as olheiras. Não encontrou rugas, mas a entrada no cabelo tornava-se cada vez mais difícil de esconder. Na saída de casa, o olhar topou com alguns amigos, alguns colegas, e saiu.
 

1 comment so far.

  1. Unknown 12 de junho de 2009 às 20:58
    Curioso como algumas questões parecem ser instrínsecas a todo ser humano. Parece que sempre sentimos faltar alguma coisa, mesmo que o momento seja feliz... falta alguma coisa... e não, não é para se comer um chapéu!
    E, Du. Cara, o dia que você ficar velho por dentro, o mundo cai!
    Abraço.
    Renato

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