Sonhos que podemos ter

Categoria: escrito por Eduardo Bordinhon
O filho do empregado sempre teve muitas coisas que não podia. E não me refiro às três Playboys que manteve escondidas sob suas gavetas durante uns 5 anos da adolescência. São objetos, bens, experiências que, mesmo fora do seu alcance financeiro, ele pôde ter.

Talvez por alguma habilidade, simpatia, cara de cachorro sem dono, não sei; por algum mérito particular alcançou muita coisa que um filho de empregado não alcançaria. Talvez pela educação e cordialidade sabiamente investida pelos pais sobre ele e a convivência com amiguinhos mais ricos, comeu seu primeiro e muitos Kinder Ovos, Big Mac Lanches Felizes, foi ao Parquinho, ganhou um boné imbecil através patrocínio alheio.

Quando se tornou adolescente, o filho do empregado deixou de ser a criancinha que se leva pra passear e quando se tornou mais velho ainda, ele passou para alguém de quem se quer apenas notícias.

E as notícias são: Ele cresceu desacostumado a ir no caixa do Mac Donalds, a consumir qualquer coisa num barzinho e aprendeu a pedir a mesma coisa que aquele quem paga a conta do jantar. Para as mães de seus amigos, virou um garoto simpático, amável, de uma timidez de quem some no meio da casa alheia. Aprendeu a andar a passos leves. O filho do empregado deve passar desapercebido.

E, talvez por essa timidez cordial, ele era querido por seus amigos, que, agora não mais sobre dependência tão direta dos pais, passaram a ser os seus mecenas. Assim, o filho do empregado conheceu o mundo, teve um tênis com luzinha que pisca e passou a se questionar se os amigos lhe compravam os doces que vendia para ajudá-lo, ou se ele era tão bom comerciante que seus amigos compravam muito do que ele vendia.

Começou a pensar que conhecer os jardins suspensos da babilônia talvez não fosse tão bom quanto poder conhecer o jardim de casa quando se pode ir apenas até o jardim de casa. É melhor aquilo que temos ou o que podemos ter?

Ele não soube responder.
 

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