Vestibular

Categoria: escrito por Eduardo Bordinhon
Poema em linha reta
Fernando Pessoa(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Cara Estranho
Marcelo Camello
Olha só, que cara estranho que chegou

Parece não achar lugar
No corpo em que Deus lhe encarnou
Tropeça a cada quarteirão
Não mede a força que já tem
Exibe à frente o coração
Que não divide com ninguémT
em tudo sempre às suas mãos
Mas leva a cruz um pouco além
Talhando feito um artesão
A imagem de um rapaz de bem
Olha ali quem tá pedindo aprovação
Não sabe nem pra onde ir
Se alguém não aponta a direção
Perigo nunca se encontrar
Será que ele vai perceber
Que foge sempre do lugar
Deixando o ódio se esconder
Talvez se nunca mais tentarViver o cara da TV
Que vence a briga sem suar
E ganha aplausos sem querer
Faz parte desse jogo
Dizer ao mundo todo
Que só conhece o seu quinhão ruim
É simples desse jeito
Quando se encolhe o peito
E finge não haver competição
É a solução de quem não quer
Perder aquilo que já tem
E fecha a mão pro que há de vir


Agora, tendo em vista os textos acima, faça uma dissetação sobre a sua vida. (Porque as vezes nos falta a palavra e a gente recore pra quem sabe escrever)
 

3 comments so far.

  1. laura lima 23 de junho de 2007 às 09:54
    caralho,demais esses excertos,mano!
    vou fazer a red.
    sera que eu passo?
    hahaha


    enfim,falando serio..adorei a intertextualidade.
    chico?
    foi vc?
    ou foi o du?
    bom,desculpa,parceragi,mas eu vi los hermanos e lembrei de chico.
    enfim...eu sempre me identifiquei com o do fernando pessoa.serio.
    bjooos
  2. Unknown 23 de junho de 2007 às 11:17
    Minha redação pode ser só pela metade?

    Ou um parágrafo?

    Sabe porquê?

    Minha vida ainda não começou direito....
  3. Flora Gussonato 23 de junho de 2007 às 13:40
    Olá meninos, passada a correria com as montagens, voltei a ler isso aqui...dei boas risadas e encontrei coisas muito bonitas...Parabéns, se isso é o melhor a dizer.
    Estou pensando em fazer um blog pra mim, em breve divulgo aqui.
    Beijos
    Flora
    Ah Chicu ... nãogostei da piadinha quantoaminha nudez cênica...hehehe

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