Prólogo

Categoria: escrito por Eduardo Bordinhon
“…...” São os nomes dos atores/atrizes do elenco

(O público entra, senta e espera. Passado um tempo para causar certo incômodo, ouvem-se barulhos seguidos de murmúrio agitados nas coxias. Um ator entra no palco. Traz consigo sua mochila com figurino e objetos de cena e sua maleta de maquiagem)

Ator – Desculpem-nos pelo atraso. Nosso ônibus se perdeu na estrada. Os outros estão agora no camarim se aprontando. Como eles ainda vão demorar nisso e eu só entro lá pelo fim, me mandaram aqui para entretê-los. (larga suas coisas no palco. Via na coxia, pega um banco e uma cadeira. Começa a se arrumar, ação esta que se estende por toda fala.)
Hoje apresentaremos aqui o espetáculo “Um, nenhum, cem mil”, baseado no romance de mesmo nome de Luigi Pirandello. A obra foi indicação do nosso diretor porque queríamos falar de mudanças de referenciais, seja lá o que esse tema for, mas, para mim, a Cia se juntou mesmo por amizade. O ..... que era amigo de ….... , que já namorou a …. . Aí a gente se juntou. A peça fala de um homem que descobre que cada pessoa o enxerga de uma maneira... Pontos de vista!... E que ele nunca pode saber como é que é visto pelos outros, por fora, assim. (Pausa). To entregando a peça... Ok, vou falar para vocês então um trecho do Fernando Pessoa que muito me encantou durante o processo...

(A fala lhe é difícil. Ele demora um pouco pra começar, fica nervoso, titubeia. Por fim, com muito esforço consegue falar tudo)

“Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda a gente.”

Não? Vocês estão com uma cara nada boa. Talvez eu devesse fazer vocês rirem. Geralmente, esses prólogos para distrair o público devem ser feitos por um ator bom em “stand-up comedy”... Não sou muito bom nisso, aliás, nunca me achei um bom ator. Na minha cia eu geralmente entro nos 20 minutos de peça, volto nos 40. e fico ajudando o restante do pessoal nas coxias. Não que isso seja ruim, mas o é quando “te mandam” fazê-lo. Não ter opção é uma merda porque você acaba topando tudo que aparece. Como essa peça, por exemplo. Queria mesmo era fazer um espetáculo sobre o voo das borboletas, mas o elenco achou besta, o diretor riu de mim e minha namorada me largou. (Ele já está pronto. Encara o público por uns instantes. Pega suas coisas e sai pelo lado oposto que entrou. Nessa noite, o elenco representa a peça sem ele)
 

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